quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Consumo consciente.Uma tendência Rubro-Negra.


Admito, sou um humano comum, pleno de falhas, vícios e defeitos. Entre os quais se destacam a preguiça e a indolência. Felizmente entre meus defeitos não figura a incoerência e no primeiro dia do novo ano fui incapaz de fazer qualquer coisa de útil para a humanidade. Passei mais de 80% do dia deitado, sentado ou escarrapachado no sofazão master exercitando freneticamente só o polegar nos teclados dos controles remotos.

Deve ter sido em função desse esforço titânico que acordei no primeiro sábado de 2010 inflamado por uma chama cívica que ardia em meu peito e uma insistente voz em minha consciência. Voz poderosa, com um timbre muito parecido com a do Jorge Curi, que me dizia a intervalos regulares:
- Seja útil à sociedade, realize algo, contribua para a melhoria da vida das pessoas, trabalhe pelo seu país.

Após alguns minutos filosofando sobre meu papel na opera que todos nós desempenhamos ao mesmo tempo em que escrevemos o seu libreto no teatro do universo vulgarmente chamada de vida, me pus de pé com o ímpeto de um soldado e parti decidido e varonil em direção ao supermercado mais próximo. Eu tinha uma missão e iria cumpri-la. Pelo bem da Nação Rubro-Negra, onde o Sol nunca se põe.

Minha missão era de extrema simplicidade, mas ainda assim importante. Estava emocionado, pois iria iniciar exatamente por aquele supermercado, na humildade, ainda na base do esforço individual, a um conjunto de ações objetivando fazer com que o miliardário contrato de patrocínio (simplesmente o maior do país) recém firmado com o Mengão Fuderosão Paradigma de Mercado, valesse muito a pena ao patrocinador.

Os 25 milhões de reais que o Mengão descolou nesse rolo, quantia estratosfericamente superior aos merrecosos 16 milhões que a malévola Petrobrás nos pagava com enorme má vontade e que os gatos-mestres do marketing insistiam em afirmar ser o maior contrato do país, se tornaram o novo paradigma do marketing esportivo brasileiro. Para desespero eterno da arcoririzada, dos banhados sem drenagem à Bambyland. Paradigma, não sei bem o que é. Mas sei que é um negócio que tá toda hora mudando, porque vira e mexe tem um novo paradigma pintando na área.

Munido de uma lista previamente copiada no site de nosso novo patrocinador, a renomada, justa, respeitosa, nutritiva, barateira e higiênica Batavo do Brasil S.A., tripulei um carrinho de supermercado abordando judiciosamente as gôndolas onde os excelentes produtos da Batavo eram oferecidos à massa funkeira. A Batavo não é mole, não. Tem produto bagarai. Se ligue na abrangência do seu portfólio e certamente encontrará um ou mais víveres que agradarão ao seu paladar, ao seu orçamento ou ao seu vício.

De acordo com uma estratégia de consumo previamente traçada comecei a encher o carrinho com os produtos Batavo. A chave da otimização desse magnífico e invejado patrocínio é fazer com que a Batavo lucre cada vez mais. Então a torcida tem que concentrar seu poder de compra nos produtos que proporcionem a maior margem de lucro pro fabricante.

Por exemplo: a Batavo e seu lindo logo com a holandesa (uma batava?) possui uma enorme variedade de produtos para preguiçosos, solteiros e mal casados, a linha de alimentos pré-prontos, prontos e congelados como pizza, lazanha e bolinho de aipim com bacon. Meus parcos conhecimentos culinários me fazem pensar que nessa linha de produtos a Batavo pode agregar mais valor e diferenciais que justifiquem uma maior margem de lucro. Pelo menos uma margem maior do que a obtida nas commodities como manteiga, requeijão e outros derivados do leite, produtos onde a diferenciação entre os concorrentes tende a ser irrelevante e os preços são naturalmente emparelhados com o da concorrência.

Enchi meu carrinho com ênfase nessa linha de frios, que além da questão da margem de lucro podem ser estocados no freezer por décadas. Claro que também estoquei manteiga extra com sal, batata-frita congelada e sobremesas variadas, entre as quais a preferida das minhas exigentes filhas, o delicioso Choco Milk. Ao passar pelo caixa o preço foi justo e a recompensa moral por estar atuando decisivamente em prol de um Flamengo ainda maior me encheram de orgulho nacionalista e afastaram qualquer sombra de culpa por estar consumindo supérfluos num país onde a fome ainda é uma realidade que nos envergonha. Pelo menos a voz tonitroante no meu ouvido parou. Já tava legal de Jorge Curi.

Esse deve ser o espírito dos rubro-negros. Agir localmente e pensar globalmente. Se a torcida entender que se ela bombar um produto a ponto do fabricante ter que aumentar a produção e pela economia de escala lucrar mais e poder até baixar o preço desse produto ou de outros da sua linha, o Flamengo pode negociar ainda melhor seu próximo contrato. É assim que funciona esse maldito e injusto sistema capitalista meritocrático.

Portanto, esfaimada maior torcida do mundo, revejam seus hábitos de consumo e parem de pensar somente em seus problemas imediatos na hora do supermercado. Tenham visão estratégica de longo prazo e pensem no engrandecimento do Mengão, mas pensem também no engrandecimento de seus parceiros comerciais. Nós que fizemos da Petrobrás a líder de extração, refino e comercialização de combustíveis no país durante mais de 25 anos vamos mostrar para essas empresas de economia mista que não sabem respeitar o Manto com quantos paus se faz uma canoa.

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